Resumo

Biossurfactantes são exopolímeros bacterianos com propriedades anfifílicas, ou seja, apresentam uma porção polar e outra apolar, fazendo com que se distribuam na interface entre duas fases líquidas imiscíveis, formando um filme molecular que reduz a tensão superficial e interfacial. Essas substâncias são biodegradáveis e menos tóxicas, se comparadas a surfactantes sintéticos derivados do petróleo. Bactérias produtoras de biossurfactantes vêm sendo crescentemente utilizadas na biorremediação de locais acometidos com hidrocarbonetos, aumentando a solubilização dos poluentes e acelerando a degradação microbiana. Outra possível aplicação importante trata do uso de biossurfactantes em processos que visam à recuperação microbiana avançada de reservatórios de petróleo (MEOR). Neste sentido, buscando diferentes nichos de microrganismos aptos à produção de compostos com ação biossurfactante de interesse à aplicação industrial/ambiental, foram isoladas 544 bactérias provenientes do processo de compostagem de resíduos orgânicos adotado na Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP), as quais foram triadas qualitativa e quantitativamente quanto às suas habilidades biossurfactantes. Vale ressaltar que a compostagem é um método de degradação e estabilização de matéria orgânica do qual participam uma variada gama de microrganismos que podem ser potenciais produtores de biossurfactantes. Assim, neste contexto, foram selecionadas duas linhagens, FPZSP 342 e FPZSP 84, as quais apresentaram resultados promissores no que tange à capacidade biossurfactante, ou seja, produzindo exopolímeros em proporções acima 1,2 g EPS/g células, com índices de emulsificação (E24) acima de 60% e valores entre 30 e 40 mN/m para a tensão superficial. Através de análises utilizando-se sistema LC-MS/MS MicroTOF QII Bruker, pôde-se verificar que tanto a linhagem FPZSP 84 e FPZSP 342 produziram EPS com características moleculares de misturas de glicolipídeos, os quais puderam ser evidenciados pela abundância dos íons 507 (FPZSP 342) e 460,8 (FPZSP 342), além dos íons 442 (FPZSP 84) e 165,1 (FPZSP 84). Através dos íons moleculares, com massa acima de m/z 1000, constatou-se o caráter polimérico dos compostos produzidos. Desta maneira as linhagens serão reavaliadas e testadas, utilizando outras fontes de carbono oriundas de resíduos agroindústriais, com objetivo de incrementar a produção microbiana do composto biossurfactante, bem como trazer soluções para a reutilização de tais resíduos.